Refletindo sobre casa e trabalho, podemos dizer que nossa casa é a parte mais profunda de nossa personalidade, onde mesmo que não nos mostremos, o teatro se anula para sermos quem somos. Nosso trabalho é aquilo que praticamos com sentido existencial, em que a sobrevivência pode se fazer além dos ganhos materiais.
Os ganhos materiais são importantes, mas não tenho dúvida de que seria impossível sobreviver sem a realização interior.
A pergunta sugerida é: Onde está nossa realização interior? No dinheiro, na meta ainda por ser alcançada, no servir às pessoas, no saciar da sede de status?
Pensemos juntos: Após conseguirmos um meio de sobrevivência, onde estará a razão de nossa existência?
Fico pensando no quanto andamos indiferentes e alheios ao sentimento de auto-aprimoramento nos dias de hoje. Prendemo-nos a notícias cheias de vazio, sensacionalismo e horror. Absorvemos fatos sem fonte e de pura inutilidade explícita. Com isto, perdemos um precioso tempo de nossas vidas. Enquanto rimos e nos gabamos, em regozijo de nossa juventude, ficamos indiferentes ao fato de que a ignorância é a infelicidade vestida de falso prazer e que logo, em algum lugar, saberemos o quanto a vida foi curta e mal vivida. Pior. Saberemos o quanto fomos tristes. Não lembramos que viver é, ao mesmo tempo, um dom, uma responsabilidade e uma oportunidade.
Penso que a vida passa longe de ser uma brincadeira, mas podemos fazer dela um ambiente muito feliz com o trabalho da auto-lapidação, rumando nosso ser para uma existência mais educada, alta e honesta para consigo mesmo e com o próximo.
Todas as festas, bebidas, aventuras e piadas do mundo não poderão compensar a ausência de mínimas sabedorias disponíveis, as quais poderiam gerar a verdadeira felicidade. O divertimento é importante, mas antes dele, a sabedoria é que oferece o equilíbrio, ou seja, o respeito.
Quantos de nós oferecemos dinheiro, tempo e espaço em troca de notícia e entretenimento inútil?
Tentamos saber quem está casando-se com quem, quem engravidou de quem, quem comprou ou vendeu, vivendo a vida alheia como sendo nossa. Hora, quem vive a vida dos outros não cuida da própria, ou seja, não vive.
Não estamos falando apenas de pessoas públicas. Estamos falando de casas onde até membros familiares não medem esforços para reforçar boatos e falarem uns dos outros, vasculhando-se em tempo quase que integral.
Quando assistimos a um filme sem conteúdo, lemos inutilidades sobre a “última celebridade”, e investigamos o novo carro do vizinho, estamos perdendo a oportunidade de, no lugar disso, fazermos boas perguntas, ouvirmos boas respostas, adquirirmos conhecimento e de vivermos com dignidade uma fagulha valiosa de nossa própria vida.
Temos medo de nós mesmos e é por isso que fugimos para as casas, os carros e para a vida dos outros.
Penso que cada qual sabe de si e não estou aqui para dizer o que as pessoas devem ou não fazer, mas emito uma opinião segura: Hábitos podem ser mudados e por isso, podemos repensar e até mudar os que temos.
Independente de nossos costumes, experimentemos, apenas por uma vez, nos colocar no lugar dos outros, principalmente daqueles de quem por vezes falamos pelas costas.
Lembremo-nos que diante de filhos, nosso exemplo será a maior referência deles. Você gostaria que seu filho fosse apenas mais um entre os que buscam informações inúteis, que em nada acrescentam-lhes à vida?
Se não queremos isso para nossos filhos, é preciso que o primeiro passo seja dado por nós mesmos.
Busquemos aprimoramento, educação, espiritualidade e sejamos felizes da única maneira possível: Vivendo nossas próprias vidas e não as dos outros.
Nossa sociedade, especialista em julgar, possui ”grandes personalidades” emitindo opiniões, adornando conceitos, criando rótulos vendáveis e comentando fatos não comprovados. Você será mais um a emitir opiniões alheias e sem base, dizendo serem suas ? Você será mais um, entre milhões, a correr atrás da última nobre fofoca? Você será mais um?
Por fim, reflitamos sobre a palavra “utilidade”.
Quando falamos em público, estamos mais preocupados com o que os outros vão pensar que em sermos úteis, por isso ficamos nervosos e ansiosos.
Diante de um livro, de uma revista, de nosso trabalho, de um programa de TV, das palavras de alguém e de nós mesmos, podemos nos perguntar sempre: Qual a utilidade disto?
Pensemos nisto porque a bem da verdade, entre tantos perfis e muito a se fazer, de um lado, estão os que são úteis, de outro, os que falam dos outros.
Victor Chaves