O sertanejo romântico (entenda-se meloso) pode ter arrefecido nas paradas de sucesso. Mas não está morto. Ao contrário. Prova disso é que um de seus maestros deverá se firmar neste ano como o compositor que mais fatura com direitos autorais nas cinco regiões do Brasil: Vitor Chaves - o Victor da dupla Victor & Leo (sim, o prenome de bastimo não tem "c", ao contrário do artístico). Mais: será o segundo ano consecutivo em que o compositor bate nomes da pesada, como Roberto Carlos, segundo o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad). Nem pense em Caetano Veloso e Chico Buarque: eles estão longe desta briga.
Nascido em Minas Gerais há 34 anos, Victor tocou por 15 anos ao lado do irmão na noite de Belo Horizonte e São Paulo antes garantir seu lugar à sombra. Agora, a agenda da dupla está lotada durante quase todo o ano de 2010. Na entrevista a seguir, ele fala dos anos de vacas magras na noite e também das fontes de inspiração do compositor que mais lucra no país.
A dupla Victor & Leo faz cerca de 200 shows por ano. Onde você arruma tempo para compor?
Tenho feito poucas canções atualmente, principalmente pelo tempo tão curto que tenho. Mas há muitas canções inéditas, que fiz no passado. Por exemplo: compus Deus e Eu no Sertão em 1995 [a canção só foi lançada neste ano].
Qual a inspiração para compor?
Não há algo específico ou uma regra. Inspiro-me na emoção por algo, alguém ou alguma experiência, ainda que não seja minha. O importante é que parta de uma emoção verdadeira e natural, pois não consigo compor algo pensando no mercado ou temas da moda.
A sua vida pessoal é bastante reservada. Deus e Eu No Sertão é uma música que fala de você? [trecho da canção: "Nunca vi ninguém viver tão feliz / Como eu no sertão / Perto de uma mata e de um ribeirão"]
Certamente. De mim e de muita gente. Compus esta canção como uma forma de sentir-me mais próximo de minhas raízes, onde eu e o Leo fomos criados. A música pode nos levar para lugares aos quais nem chegamos fisicamente, e é para onde estejam a paz, o conforto e a simplicidade que esta canção leva quem a ouve, na maioria das vezes.
Antes de fazer sucesso como cantor, você já faturava com direitos autorais?
Muito pouco. Porque o que gera meus direitos autorais são canções gravadas por mim e pelo Leo mesmo. Quase não há canções minhas gravadas por outros artistas.
Vocês tocaram muito tempo na noite e sofreram para chegar às rádios. Agora, com o sucesso, guardam alguma mágoa pelo que tiveram que passar antes da fama?
Sempre houve desafios, assim como ainda há muitos. Mas não me lembro de reclamar ou sofrer. Nunca entramos numa batalha maluca pelo sucesso, pois nosso sucesso está em fazer o que amamos. Há 18 anos, fazemos música, e é isso que nos motiva. Se ela vende e rende fama ou dinheiro, é outra coisa.
Pensaram em desistir alguma vez?
Não. Se pensássemos apenas no sucesso e em nós, talvez tivéssemos parado. Mas pensávamos em coisas mais altas, como no bem que proporcionávamos às pessoas através de nossa arte. Quando se pensa em contribuir para um mundo melhor com trabalho, este trabalho ganha verdadeiro sentido.
Parte do sucesso de vocês se deve à disseminação de CDs piratas. Como você vê isso?
Onde a saúde e a educação não são prioridade, a pirataria é apenas uma entre outras tristes consequências.
O que a fama trouxe de bom para você? E de ruim?
A fama, para mim e Leo, é sinônimo de responsabilidade. Significa que podemos ter a atenção de muita gente para o que falamos, pensamos e fazemos. Então, a usamos para falar de bons valores. Há uma grande diferença entre usar a arte para se promover e usar-se como instrumento para promover a arte. A parte ruim é ter pouca privacidade, mas faz parte.
É sabido que o dinheiro proveniente dos direitos autorais dá muitas voltas antes de chegar à mão do compositor. Ele chega certinho ou existe desvio no meio do caminho?
Acredito no Ecad e acho que o órgão enfrenta seus problemas, principalmente de ordem política e burocrática. Há instituições que usam a música em benefício próprio e não pagam direitos autorais. Não estamos num país 100% sério e é por isso que, mesmo quem quer fazer a coisa direito, enfrenta problemas. Mas acho que estamos crescendo e melhorando. Conversando com compositores mais maduros, percebo que o recolhimento melhorou muito, embora ainda haja muito a ser feito.
O gênero sertanejo universitário - que vende muito e enche as casas de shows no Brasil inteiro - é mais próximo do axé do que da raiz do sertanejo. Já a dupla Victor & Leo tem uma música mais ligada à tradição e ao sertanejo romântico. Como você vê o cenário da música sertaneja atual?
Pergunta difícil de responder. A música sertaneja, principalmente regional, é a nossa mais forte referência, embora tenhamos muita influência do blues, folk e outros ritmos. Temos uma forma muito própria de falar do sertão e podemos citar Vida Boa, Sem Trânsito, sem Avião, Deus e Eu no Sertão, Moça Rebelde e Lem Casa, como exemplos disso. Sinceramente, não me sinto no direito de classificar a música sertaneja atual. O que fala por mim é o trabalho que desenvolvo junto ao meu irmão, Leo. Nele, sempre haverá sertão.
Ainda existe espaço para as modas de viola?
Claro que sim. As modas de viola são ricas em poesia e contexto. O espaço para elas pode ser restrito na grande imprensa, mas estará garantido entre os que realmente sabem por onde passou e de onde a música sertaneja saiu. Há artistas que reciclam, com muita propriedade, o cancioneiro sertanejo, como Chitãozinho & Xororó, em Clássicos Sertanejos e Grande Clássicos Sertanejos, e Daniel, em seu trabalho Meu Reino Encantado. A exemplo deles, certamente chegará nossa hora de o fazer também.
Leia também:
Sertanejo Universitário - As raves do Jeca Tatu
Nascido em Minas Gerais há 34 anos, Victor tocou por 15 anos ao lado do irmão na noite de Belo Horizonte e São Paulo antes garantir seu lugar à sombra. Agora, a agenda da dupla está lotada durante quase todo o ano de 2010. Na entrevista a seguir, ele fala dos anos de vacas magras na noite e também das fontes de inspiração do compositor que mais lucra no país.
A dupla Victor & Leo faz cerca de 200 shows por ano. Onde você arruma tempo para compor?
Tenho feito poucas canções atualmente, principalmente pelo tempo tão curto que tenho. Mas há muitas canções inéditas, que fiz no passado. Por exemplo: compus Deus e Eu no Sertão em 1995 [a canção só foi lançada neste ano].
Qual a inspiração para compor?
Não há algo específico ou uma regra. Inspiro-me na emoção por algo, alguém ou alguma experiência, ainda que não seja minha. O importante é que parta de uma emoção verdadeira e natural, pois não consigo compor algo pensando no mercado ou temas da moda.
A sua vida pessoal é bastante reservada. Deus e Eu No Sertão é uma música que fala de você? [trecho da canção: "Nunca vi ninguém viver tão feliz / Como eu no sertão / Perto de uma mata e de um ribeirão"]
Certamente. De mim e de muita gente. Compus esta canção como uma forma de sentir-me mais próximo de minhas raízes, onde eu e o Leo fomos criados. A música pode nos levar para lugares aos quais nem chegamos fisicamente, e é para onde estejam a paz, o conforto e a simplicidade que esta canção leva quem a ouve, na maioria das vezes.
Antes de fazer sucesso como cantor, você já faturava com direitos autorais?
Muito pouco. Porque o que gera meus direitos autorais são canções gravadas por mim e pelo Leo mesmo. Quase não há canções minhas gravadas por outros artistas.
Vocês tocaram muito tempo na noite e sofreram para chegar às rádios. Agora, com o sucesso, guardam alguma mágoa pelo que tiveram que passar antes da fama?
Sempre houve desafios, assim como ainda há muitos. Mas não me lembro de reclamar ou sofrer. Nunca entramos numa batalha maluca pelo sucesso, pois nosso sucesso está em fazer o que amamos. Há 18 anos, fazemos música, e é isso que nos motiva. Se ela vende e rende fama ou dinheiro, é outra coisa.
Pensaram em desistir alguma vez?
Não. Se pensássemos apenas no sucesso e em nós, talvez tivéssemos parado. Mas pensávamos em coisas mais altas, como no bem que proporcionávamos às pessoas através de nossa arte. Quando se pensa em contribuir para um mundo melhor com trabalho, este trabalho ganha verdadeiro sentido.
Parte do sucesso de vocês se deve à disseminação de CDs piratas. Como você vê isso?
Onde a saúde e a educação não são prioridade, a pirataria é apenas uma entre outras tristes consequências.
O que a fama trouxe de bom para você? E de ruim?
A fama, para mim e Leo, é sinônimo de responsabilidade. Significa que podemos ter a atenção de muita gente para o que falamos, pensamos e fazemos. Então, a usamos para falar de bons valores. Há uma grande diferença entre usar a arte para se promover e usar-se como instrumento para promover a arte. A parte ruim é ter pouca privacidade, mas faz parte.
É sabido que o dinheiro proveniente dos direitos autorais dá muitas voltas antes de chegar à mão do compositor. Ele chega certinho ou existe desvio no meio do caminho?
Acredito no Ecad e acho que o órgão enfrenta seus problemas, principalmente de ordem política e burocrática. Há instituições que usam a música em benefício próprio e não pagam direitos autorais. Não estamos num país 100% sério e é por isso que, mesmo quem quer fazer a coisa direito, enfrenta problemas. Mas acho que estamos crescendo e melhorando. Conversando com compositores mais maduros, percebo que o recolhimento melhorou muito, embora ainda haja muito a ser feito.
O gênero sertanejo universitário - que vende muito e enche as casas de shows no Brasil inteiro - é mais próximo do axé do que da raiz do sertanejo. Já a dupla Victor & Leo tem uma música mais ligada à tradição e ao sertanejo romântico. Como você vê o cenário da música sertaneja atual?
Pergunta difícil de responder. A música sertaneja, principalmente regional, é a nossa mais forte referência, embora tenhamos muita influência do blues, folk e outros ritmos. Temos uma forma muito própria de falar do sertão e podemos citar Vida Boa, Sem Trânsito, sem Avião, Deus e Eu no Sertão, Moça Rebelde e Lem Casa, como exemplos disso. Sinceramente, não me sinto no direito de classificar a música sertaneja atual. O que fala por mim é o trabalho que desenvolvo junto ao meu irmão, Leo. Nele, sempre haverá sertão.
Ainda existe espaço para as modas de viola?
Claro que sim. As modas de viola são ricas em poesia e contexto. O espaço para elas pode ser restrito na grande imprensa, mas estará garantido entre os que realmente sabem por onde passou e de onde a música sertaneja saiu. Há artistas que reciclam, com muita propriedade, o cancioneiro sertanejo, como Chitãozinho & Xororó, em Clássicos Sertanejos e Grande Clássicos Sertanejos, e Daniel, em seu trabalho Meu Reino Encantado. A exemplo deles, certamente chegará nossa hora de o fazer também.
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