Sertanejo conquista jovens da classe média do Rio

Centenas de cariocas lotam boate em noite dedicada ao ritmo musical
Anderson Dezan, iG Rio de Janeiro 12/05/2010 09:45


Quinta-feira à noite. Uma imensa fila de jovens se forma em frente a uma boate na Barra da Tijuca, bairro de classe média do Rio de Janeiro. Ao contrário do que pode imaginar quem passa desavisado pelo local, essas pessoas não estão ali para aproveitar a noite ouvindo funk, hip hop ou samba. Esses jovens, na verdade, vão curtir a “night” ao som de Victor & Leo, Luan Santana e João Bosco & Vinícius, entre outros artistas sertanejos. Até pouco tempo recebido com desdém pela burguesia carioca, o estilo musical tem invadido o Rio e faz cada vez mais sucesso entre a juventude local.
Foi-se o tempo em que ao pensar em sertanejo vinha à mente apenas a moda de viola de duplas como Tonico e Tinoco ou as canções românticas de Leandro & Leonardo. Os hits do atual sertanejo universitário continuam tendo as questões amorosas como principal inspiração, mas o som tem mais “pegada” e incorpora elementos do pop/rock. Sucesso em boa parte do Brasil, o mesmo tem acontecido agora no Rio e os mais de 500 jovens que lotam a boate ZeroVinteUm toda semana são a prova disso.

“Sempre viajei o Brasil inteiro e vi que o Rio era a única capital que não tinha uma boate com uma noite dedicada à música sertaneja. A partir daí, tive a ideia”, conta Marcelo Vidal, que montou a “Quintaneja” há um ano e agora colhe os frutos da aposta. “Quando disse para os meus amigos que ia organizar um evento sertanejo eles me chamaram de maluco. Eles não conheciam, no entanto, o novo sertanejo, que é mais dançante”.

Para esquentar a noite, o DJ no comando coloca músicas que fazem a galera cantar junto. Sucessos como “Chora, me liga” (música nacional mais tocada no Brasil em 2009), “Meteoro”, “Borboletas” e “Pode chorar” estão entre as que não podem faltar. Logo depois, entra a atração principal – a dupla que irá se apresentar ao vivo naquela noite interpretando composições próprias e de outros artistas.

“Chamo alguns amigos, mas eles não topam. No dia que vierem, vão adorar”, diz a estudante de arquitetura Vanessa Marion, de 22 anos, ostentando um chapéu de cowgirl. “Tem gente que diz que a música é brega, mas quando escuta acaba gostando. Elas falam de coisas que todo mundo vive”, faz coro o músico Tiago Viana, de 19 anos.

Paqueras e sucesso

Moradora do Recreio dos Bandeirantes, a estudante de pedagogia Mariana Teixeira, de 21 anos, confessa que começou a ouvir músicas sertanejas por influência de amigos do interior de São Paulo. “Primeiro zoava eles, mas depois fui ‘contaminada’ em festas e viagens. Não teve jeito”, relembra, rindo. “A noite sertaneja tem um clima de azaração, mas é diferente. O jeito de dançar e conversar é outro. É diferente daquela balada tradicional”, avalia.

Para o vendedor Jorge Rocha, de 18 anos, a animação das músicas combinada ao romantismo das letras ajuda na hora da paquera. “Aqui tem muita mulher e isso é muito bom! E ainda por cima são muito mais bonitas. Esse é um atrativo a mais”, conta o jovem, puxando o “s” em seu sotaque do interior.

Nascido no município capixaba de Afonso Cláudio e há dois anos morador do bairro carioca do Recreio dos Bandeirantes, Jorge revela que influenciou todos os amigos com seu gosto caipira. “Minha família inteira gosta de música sertaneja. Na minha cidade só toca isso. Quando cheguei ao Rio ninguém ouvia e agora todos meus amigos gostam”, relembra.

A advogada Juliana Menezes, de 30 anos, moradora da Tijuca, também já gostava do estilo musical antes do modismo que toma conta do Rio. “Já ouvia Zezé di Camargo & Luciano e João Paulo & Daniel. Era fã e todo mundo me criticava”, diz a carioca. “Dizia que gostava da dupla Victor & Leo e ninguém conhecia. Enviava as músicas deles pela internet para minhas amigas e elas passaram a gostar também”, confessa, referindo-se aos artistas que emplacaram três discos entre os dez mais vendidos no Brasil em 2009.

Para Marcelo Vital, o sucesso da noite sertaneja no Rio não o surpreendeu. “Aquela história de que o carioca estava de frente para o mar e de costas para o restante do Brasil está acabando”, resume o organizador da “Quintaneja”.

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